13 de julho de 2010

Le Sorcier

O cavalheiro à frente e à esquerda, de aspecto um tanto sério e respeitoso, foi um dos mais endiabrados preparadores de motores, cujas matrizes eram pacatas e tediosas.

Amadeo Gordini, que ainda adolescente trabalhou nas oficinas de Alfieri Maserati, sempre fez jus à alcunha de Mago. Italiano, de origem e francês por opção, instalou-se na França após a I Guerra Mundial e decorrido algum tempo, passou a desenvolver trabalhos junto à SIMCA. Paralelamente, aventurava-se nas pistas, onde começou a fomentar a idéia de desenvolver seus próprios veículos. Assim, de 1950 a 1956 disponibilizou carros para a Fórmula Um, tendo, inclusive, Hernando da Silva Ramos, disputado com a marca em 1955 e 1956.

Mas a parte realmente interessante ocorre após 1957: O departamente de competição da Renault é entregue aos cuidados de Amédée, que desde já, desenvolve uma versão mais parruda do motor esquálido que equipava o recém lançado Dauphine. Assim, a pequena viatura de 0,845 l passa de 30 a 38 cv, chegando a 55 cv com o motor 1093. A par da competitividade nas pistas, as modificações praticadas, foram introduzidas nos modelos de linha pela montadora, o que por si só já é uma vitória diferenciada. E se o mago fez sua arte no Ventoux, com o motor Cléon que viria equipar o sucessor do Dauphine é que toda a sua magia se fez ver.

Lançado em 1962 o Renault 8, com uma motorização mais moderna para a época, Gordini mostrou seu potencial mais uma vez e de forma superlativa: em 1964 a versão esportiva colocada em mercado, pulava de 50 CV para 90 CV, com os mesmos 1,11 l. Desde taxa de compressão elevada, desenho diferente das câmaras de combustão, dupla carburação, coletor de escape dimensionado passando por freio a discos nas 4 rodas revelou-se um carro tão diferente da versão civilizada, que além do nome Renault 8 Gordini tinha uma única cor disponível: o mesmo azul utilizado pela montadora, cortado com duas faixas brancas de capot a capot. Contando com instrumentação complementar, volante esportivo e suspensão calibrada para o propósito do uso, tinha ainda a particularidade de ter dois tanques de combustível, onde mais do que autonomia, o que se visava mais era uma melhor distribuição de peso.


Ademais, se a versão "padrão" disponibilizada pela fábrica ao consumidor já era um autêntico foguete de bolso, as preparadas especificamente para competição, eram ainda mais endiabradas. O que ficou mais evidente nos Alpines 110. Num paralelo mais fácil de ser percebido, basta a recordação da Equipe Willys nas provas nacionais, onde podia-se constatar todo o engenho de Gordini.

Tempos interessantes, nos quais o desenvolvimento de versões esportivas, ficavam a cargo de quem detinha conhecimento técnico e, não exatamente, ao departamento de cosmética.

Quem escreveu muito melhor

Um comentário:

  1. Pena que os Renault são desprovidos de beleza, pois mecanicamente sempre receberam atenção e cuidados da fábrica e dos preparadores.

    Uma dúvida que tenho é sobre a resistência do cabeçote nessas versões esportivas, dado o tipo de comando e a possiblidade de "salto" de válvula em alto giro. Será que aguentava alto giro?

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