
Lembro-me bem apesar da pouca idade à época. Principalmente os detalhes mais significativos; aqueles que ficaram impregnados na minha memória e que, ao longo do tempo, não perderam uma única nuance.
Em dezembro de 1968, meu avô Beirante e sua esposa (não por acaso, minha avó), levou-me na companhia da minha irmã a um passeio. A bordo de um taxi qualquer, rumamos à rua Tobias Barreto, na Móoca. Era quase uma trilha, pois para isso, precisava-se descer a rua Padre Adelino e atravessar uma pinguela de madeira por sobre um córrego no meio de algo que, para mim, parecia uma selva. Hoje, onde se localizava essa pequena ponte, é a atual avenida Salim Farah Maluf, ex-avenida Tatuapé.
A razão do passeio só foi esclarecida pelo velho Beirante quando descemos em frente a uma revenda de autos usados:
Hoje vamos comprar um automóvel!
Se a hiperatividade nossa já era considerável pelo passeio/aventura, a situação passou a exigir gritos, pulos e correria. Correria essa, sem qualquer critério, que ficou mais intensa quando nossos avós nos soltaram dentro da loja, para olharmos os carros. Minha altura não permitia ver os interiores, no máximo as rodas e pouco abaixo dos frisos dos automóveis.
Depois de alguns minutos, nosso avô nos chama e pergunta qual gostamos mais. Após uma curta reunião e algumas considerações entre irmãos houve unanimidade: o eleito era aquele vermelho e de parte de trás grande e altona. Abertas as portas do carro, escalamos invadindo aquele território novo. O que nos parecia um sofá na frente, era longo. E tinha um atrás também!!! Não acreditamos quando vimos que atrás deste, tinha um parquinho, grande, espaçoso e com vidros por todo lado!!!! E foi a primeira das posteriores vezes, que escutei o duplo clac da trava de parte da tampa traseira. Encantado, vi de relance que tinha outra tampa aberta, lá na frente. Desci e fui correndo querer ver se havia outro compartimento para se sentar. Meio que frustrado, meu avô me mostrou que aquele lugar já estava ocupado por um monte de ferro, alguns fios e umas peças redondas. Achava eu que a única coisa necessária para um carro andar era a chave de ignição.
O Beirante mais antigo desapareceu com o carro e retornou depois de algumas horas. Na verdade, minutos. Novamente dentro do carro, vimos meu avô dar uns papéis para o moço da loja, rabiscar outros e entrar no carro para voltarmos para casa.
Dispensável dizer que minha irmã e eu voltamos no porta bagagem, onde fizemos duas novas descobertas: um compartimento secreto, para se esconder coisas. Na verdade, a tampa de inspeção/lubrificação do eixo traseiro, só comportava algumas figurinhas. Era impossível fechá-la se o objeto fosse maior que uma caixa de fósforos. A segunda, pouco durou. Havia um colante (adesivo na época era apenas um tipo de cola) de um simpático senhor sorridente, todo de vermelho, com rabo em forma de flecha, barbicha e duas pontinhas na cabeça. O colante do Coisa Ruim, foi retirado a mando da minha avó, no dia seguinte. Houve uma terceira descoberta, essa sem graça alguma: não, não se podia andar com as tampas abertas.
Poucos, mas inesquecíveis, foram os passeios com meus avós e irmã à bordo daquela Vemaguet 1967 bordô (na verdade grená), pois pouco mais de meio ano depois, o velho Beirante nos deixou. Mas, graças ao meu pai, não foram raras as viagens naquele carro que só foi vendido em 1981, em razão de uma mudança radical.
Já menos criança, fiquei triste prá cacete.
Em dezembro de 1968, meu avô Beirante e sua esposa (não por acaso, minha avó), levou-me na companhia da minha irmã a um passeio. A bordo de um taxi qualquer, rumamos à rua Tobias Barreto, na Móoca. Era quase uma trilha, pois para isso, precisava-se descer a rua Padre Adelino e atravessar uma pinguela de madeira por sobre um córrego no meio de algo que, para mim, parecia uma selva. Hoje, onde se localizava essa pequena ponte, é a atual avenida Salim Farah Maluf, ex-avenida Tatuapé.
A razão do passeio só foi esclarecida pelo velho Beirante quando descemos em frente a uma revenda de autos usados:
Hoje vamos comprar um automóvel!
Se a hiperatividade nossa já era considerável pelo passeio/aventura, a situação passou a exigir gritos, pulos e correria. Correria essa, sem qualquer critério, que ficou mais intensa quando nossos avós nos soltaram dentro da loja, para olharmos os carros. Minha altura não permitia ver os interiores, no máximo as rodas e pouco abaixo dos frisos dos automóveis.
Depois de alguns minutos, nosso avô nos chama e pergunta qual gostamos mais. Após uma curta reunião e algumas considerações entre irmãos houve unanimidade: o eleito era aquele vermelho e de parte de trás grande e altona. Abertas as portas do carro, escalamos invadindo aquele território novo. O que nos parecia um sofá na frente, era longo. E tinha um atrás também!!! Não acreditamos quando vimos que atrás deste, tinha um parquinho, grande, espaçoso e com vidros por todo lado!!!! E foi a primeira das posteriores vezes, que escutei o duplo clac da trava de parte da tampa traseira. Encantado, vi de relance que tinha outra tampa aberta, lá na frente. Desci e fui correndo querer ver se havia outro compartimento para se sentar. Meio que frustrado, meu avô me mostrou que aquele lugar já estava ocupado por um monte de ferro, alguns fios e umas peças redondas. Achava eu que a única coisa necessária para um carro andar era a chave de ignição.
O Beirante mais antigo desapareceu com o carro e retornou depois de algumas horas. Na verdade, minutos. Novamente dentro do carro, vimos meu avô dar uns papéis para o moço da loja, rabiscar outros e entrar no carro para voltarmos para casa.
Dispensável dizer que minha irmã e eu voltamos no porta bagagem, onde fizemos duas novas descobertas: um compartimento secreto, para se esconder coisas. Na verdade, a tampa de inspeção/lubrificação do eixo traseiro, só comportava algumas figurinhas. Era impossível fechá-la se o objeto fosse maior que uma caixa de fósforos. A segunda, pouco durou. Havia um colante (adesivo na época era apenas um tipo de cola) de um simpático senhor sorridente, todo de vermelho, com rabo em forma de flecha, barbicha e duas pontinhas na cabeça. O colante do Coisa Ruim, foi retirado a mando da minha avó, no dia seguinte. Houve uma terceira descoberta, essa sem graça alguma: não, não se podia andar com as tampas abertas.
Poucos, mas inesquecíveis, foram os passeios com meus avós e irmã à bordo daquela Vemaguet 1967 bordô (na verdade grená), pois pouco mais de meio ano depois, o velho Beirante nos deixou. Mas, graças ao meu pai, não foram raras as viagens naquele carro que só foi vendido em 1981, em razão de uma mudança radical.
Já menos criança, fiquei triste prá cacete.