5 de julho de 2010

A Era dos Exageros

Bem se lembra quem passou pelos anos 80 do Século XX: havia lugar em todos os ninchos possíveis para a extrapolação de tudo que se possa imaginar. Havia o cabelo indiscritível do Mike Score do A Flock of Seagulls, as cores cítricas no vestuário, ombreiras extra largas nos blazers e nos tailleurs.

Qualquer trato, em qualquer assunto, com descrição, tomava logo o sentido de obscuro ou underground.

E como não podia ficar isento a esses exageros, as competições automobilísticas não ficaram imunes à essa característica tão marcante onde o mais era hiperlativo e cujo expoente máximo, senão o mais pontual, foi o Grupo B.

Criado em 1982, como uma mescla dos então extintos Grupo 4 e 5, poucas eram as limitações para impostas se verificado o regulamento que regia a categoria: sem restrições de peso e potência necessitava para homologação do veículo a produção de apenas de 200 modelos no período de dozes meses ininterruptos. E na década dos hiperlativos, deu no que deu.

Ressucitando os motores comprimidos, quem debutou nessa categoria, em 1983, foi a Lancia com sua 037, paramentado pelo patrocinador Martini. Seu motor de 16 válvulas, dois litros e sobrealimentado por um compressor do tipo Roots – um Sistema Abarth Volumex, trabalhando entre 0,60 a 0,90 bar - disponha de algo em torno de 305 cv a 8000 rpm. Pesando cerca de 1170 kg, graças ao chassis vestido com carroceria de kevlar reforçado, conferia cerca de 3,83 kg/cv. O que não era desprezável se levarmos em conta o tipo de prova que disputou, que passava longe de pistas e circuitos. Ainda mais que a localização de seu motor central com tração traseira, não privilegiava uma condução que admitisse pequenos erros.

E se o 037, que sucedeu a Stratos, foi um debutante de estilo e competividade, o seu sucessor não deixou por menos: A Delta S4.

Surgida em 1985, a S(ovralimentata) 4(tração integral) com 800 kg, motor 1,8l de 16 válvulas e preparado pela Abarth, permanecia com o Abarth Volumex mais, repita-se, mais um turbocompressor KKK operando na casa dos 2,0 ~2,5 bar. A adoção dos dois sistemas em simultâneo, visou diminuir o efeito de lag. A primeira versão homologada para competição, desembarcou com 480 CV aos mesmos 8.000 rpm de seu predecessor. Que remete a 1,66 kg/cv.

Apenas para referencial: o McLaren MP4-2, de 1985, pesa 540kg. Isto sem a usina fornecida pela TAG-Porsche de 750 CV a 11.000 rpm.

Mas se levarmos em conta que a versão derradeira da S4 participante do Grupo B, dispunha de 680 CV, esse referencial fica ainda mais absurdo. Principalmente se atentarmos às condições das pistas por onde triunfou.



Um comentário:

  1. Definitivamente, sou um covarde. Não teria coragem sequer de assistir as corridas, quanto mais assumir a direção desses monstros.

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