3 de agosto de 2010

Estado de Arte

Invariavelmente nos deparamos com situações que adquirem uma sensação completamente diversa, da que é experimentada quando ocorrem. E no campo estético não se procede de modo diverso, tendo em vista que, o que até pouco tempo era de gosto duvidoso passe a ser atual e aceitável. E não raro, o caminho inverso também é percorrido.

Porém, o Citroën Ami 6 sempre foi horrendo. Sempre. Desde o seu lançamento em 1961. E sempre o será. O que não significa que não possa ser cultuado e se torne objeto de desejo de muitos. Inclusive eu.

Mesmo não entendendo, realmente, o exagero nas linhas poucos convencionais daquele modelo ( tento não ficar repetindo ser absurdamente feio ).

A perplexidade fica maior, ao saber que quem concebeu suas linhas foi Flaminio Bertoni, que, se já havia assinado entre 1930 e 1940, o mítico Traction Avant, o comercial H e o indubitável 2CV, se superou no inesquecível DS.

Se a funcionalidade e a proposta do projeto não exigiam grandes extrapolações com o Traction Avant, H e o 2CV – mais ainda sim, longe de terem à época, gosto duvidoso nas linhas – no DS há arrojo e, aí sim, extrapolação na estética. Então, fica sem sentido, que quase duas décadas depois, tenha vindo o esquisito Ami 6.

Contudo há sentido e lógica nesses parâmetros por demais subjetivos.

Pois esse italiano nascido no começo do Século XX, tornou-se projetista de carrocerias por necessidade, tendo que largar seus estudos em razão da morte do pai e jovem se tornar arrimo de sua família. Para tanto, começa a trabalhar junto à Carrozzeria Macchi.

E quando contratado pela Citroën, em uma única noite, esculpiu em definitivo o modelo do Tratcion Avant. Não bastando, ao mesmo tempo em que atuava junto à montadora, aventurava-se em mostras de arte, expondo suas esculturas.

Paralelamente, ainda atuando no segmento automotivo, gradua-se em arquitetura , tendo projetos erigidos nos subúrbios de Paris.

Deste modo, para quem considerava que esculpir uma peça de arte em pouca coisa diferenciava de se desenhar um carro, fica a razão de ser de seu derradeiro projeto.

Saber que o Ami 6 é fruto de um artista – isto no seu termo mais exato – não o torna menos feio. Mas ao artista de fato, é permitida toda e qualquer liberdade sem concessões.

Quem escreveu melhor.

Um comentário:

  1. O Ami 6 é um carro tão curioso que para mim foi apresentado em partes. Era uma foto da frente, outra de uma traseira, um pedaço da lateral... Até o fatídico momento de ver uma foto inteira do veículo em questão.

    Porém, não achei necessáriamente feio, apenas pouco convencional.

    O que me chocou nesse texto foi saber que o projetista dele já tinha lapidado as linhas de ícones de beleza automotiva quem tem começo meio e fim (algo inexistente no AMI 6).

    Ótimo texto, novamente!

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